KAMII, Constance. A Criança e o Numero: implicações da teoria de
Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. Campinas, SP: Papirus,
1990.
O livro aborda os processos envolvidos na construção do conceito
de número pelas crianças e ajuda o professor a observar como elas pensam a fim
de entender a lógica existente nos erros.
O texto enfatiza que uma criança ativa e curiosa não aprende
Matemática memorizando, repetindo e exercitando, mas resolvendo
situações-problema, enfrentando obstáculos cognitivos e utilizando os
conhecimentos que sejam frutos de sua inserção familiar e social. Ao mesmo
tempo, os avanços conquistados pela didática da Matemática nos permitem afirmar
que é com o uso do número, da análise e da reflexão sobre o sistema de
numeração que os pequenos constroem conhecimentos a esse respeito.
Também merecem destaque algumas posturas que o professor deve
levar em conta ao propor atividades numéricas, como encorajar as crianças a
colocar objetos em relação, pensar sobre os números e interagir com seus
colegas.
Para Piaget há três tipos de conhecimentos:
Conhecimento físico: é o conhecimento exterior dos objetos, onde
por meio da observação as relações (diferenças, semelhanças) são criadas
mentalmente pelas pessoas.
Conhecimento lógico-matemático: a origem deste conhecimento é
interna ao indivíduo e define-se como a coordenação das relações, onde a
criança consegue ver que há mais elementos num todo do que nas partes.
Conhecimento social: são
as reuniões construídas pelos indivíduos, onde sua natureza é resultante só da
vontade. Este conhecimento necessita de uma estrutura lógico-matemática para a
organização e assimilação. O conceito de conservação baseia-se na epistemologia
(estudo dos resultados das ciências), podendo também ser utilizado para
responder a questões psicológicas quanto ao seu desenvolvimento.
A autora comenta sobre Piaget, onde ele declara que “a
finalidade da educação deve ser a de desenvolver a autonomia da criança, que é
indissociavelmente social, moral e intelectual” (p.33). Autonomia significa
agir por leis próprias. Como as escolas ainda educam tradicionalmente, a
heteronomia da criança passa a ser mais trabalhada do que a própria autonomia,
sendo reforçado o erro, bem como o incentivo às boas ações por meio de prêmios,
sanções, notas, dentre outros. O professor tem a missão de estimular o
pensamento espontâneo da criança.
No capítulo seguinte, Kamii escreve sobre os princípios de
ensino, apresentando-os em três títulos:
• A criação de
todos os tipos de relações – a criança que pensa na sua vida cotidiana consegue
raciocinar sobre muitos outros assuntos ao mesmo tempo.
• A quantificação
de objetos – deve-se apoiar a criança a pensar sobre o número e quantidade de
objetos, quantificando-os com conhecimento lógico, comparando conjuntos móveis.
• Interação social
com os colegas e os professores – apoiar a criança a conversar com seus colegas
e imaginar como está desenvolvendo o raciocínio em sua cabeça.
No capítulo final, comenta-se sobre as situações que o professor
pode aproveitar para ensinar os números. São apresentadas em dois tópicos: vida
diária e jogos em grupo. Para se ensinar quantificação, é necessário ligá-la à
vivência da criança, distribuindo os materiais, dividindo os objetos em partes
iguais, coleta dos objetos, registro de dados e arrumação da sala de aula e
votação.
Jogos em grupo proporcionam raciocínio amplo e comparação de
quantidades, trabalhando jogos com alvos (boliche ou bolinhas de gude), jogos
de esconder, brincadeiras de pegar, jogos de adivinhação, jogos de tabuleiro,
jogos de baralho, jogos de memória. O ponto central e essencial da teoria de
Piaget é a abstração reflexiva e a construção de uma estrutura numérica pela
criança por meio da abstração reflexiva.
No apêndice, a autora cita um dos livros de Piaget (O julgamento
moral da criança – 1932), onde o teórico explica a importância da moralidade na
autonomia; está dividido em três partes.
Autonomia moral: as
crianças adquirem os valores morais, internalizando-os através do contato com o
meio ambiente.
Autonomia intelectual: as crianças adquirem o conhecimento
criando e organizando relações.
Autonomia como finalidade de educação: conceituando novos
objetivos.
http://www.pedagogiaaopedaletra.com/posts/resenha-do-livro-a-crianca-e-o-numero-implicacoes-educacionais-da-teoria-de-piaget-por-atuacao/